quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estudos Psicanalíticos sobre a sexualidade infantil





A Criança e o Sexo


Relacionar o tema sexo com a “inocência infantil” até pouco tempo era considerado inadequado ou inapropriado. Freud foi responsável por chamar a atenção para a importância da sexualidade infantil, e chegou às suas conclusões através da análise de adultos. Verificou existir uma situação triangular que não podia ser descrita senão dizendo que o menino tinha amor pela mãe e estava em conflito com o pai como rival sexual. O elemento sexual foi demonstrado pelo fato de que tais coisas não aconteceriam unicamente em fantasias, mas havia acompanhantes físicos. Este tema central foi destacado e recebeu o nome de complexo de Édipo, permanecendo ainda hoje como tema central e ofereceu importantes contribuições para a Psicologia.
Se o fato central do complexo de Édipo for aceito, é imediatamente possível e desejável examinar os aspectos em que o conceito é inadequado ou impreciso como diretriz para a Psicologia Infantil.
A primeira objeção resulta da observação direta de meninos pequenos. Alguns meninos exprimem seu sentimento de amor pelas mães, mas também pelos pais. E em alguns casos outras pessoas ocupam facilmente o lugar de pai. A observação direta não confirma o grau de importância dado pelo psicanalista ao complexo de Édipo. Tal constatação se contrapõe por meio de uma análise cuidadosa e prolongada. A criança passa por uma aguda exacerbação de conflito mental decorrente do choque entre ódio e medo, por um lado, e amor, por outro.
No caso de meninas pequenas a primeira hipótese dizia que elas se enamoravam de seus pais, odiando e temendo suas mães. Muitas meninas, porém não vão tão longe em seu desenvolvimento emocional. Os riscos inerentes de conflito com a mãe são deveras grandes, pois com a idéia de mãe (na fantasia inconsciente) está associada a idéia de assistência carinhosa. A menina, portanto, tem um problema especial, que mais não fosse porque quando ela chega a amar o pai sua rivalidade é com a própria mãe, que é o seu primeiro amo de um modo mais primitivo.
Essa descrição é obviamente defeituosa a respeito da bissexualidade. A criança fica normalmente identificada com cada um de seus progenitores, mas, num determinado momento, principalmente com um deles, e esse um não tem por que ser do mesmo sexo da criança. Em certos casos, as identificações opostas podem ser uma base para tendências homossexuais posteriores de qualidade anormal. Entendendo-se que a base da saúde mental é estabelecida na infância e na reduplicação do desenvolvimento infantil que tem lugar na puberdade.
As brincadeiras infantis são grandemente enriquecidas pelas idéias e pelo simbolismo sexual e, se houver uma forte inibição sexual, seguir-se-á uma inibição lúdica. Tanto o prazer mental como a gratificação e alívio de tensão promanam das brincadeiras comuns da infância, que são uma representação inspirada pela fantasia e independe da excitação física. A excitação requer um clímax. A solução óbvia para a criança é a brincadeira com clímax, em que a excitação conduz a alguma coisa, “um carrasco para lhe decapitar”, uma penalidade, um prêmio, alguém é agarrado ou morto, alguém ganhou etc. Poderiam ser dados inúmeros exemplos de representação sexual, mas não forçosamente acompanhadas de excitação corporal. Há muitas brincadeiras sexuais relacionadas, em maior ou em menor grau, à fantasia sexual. Deve-se ressaltar que uma criança sexualmente inibida é um fraco companheiro e está empobrecida, tal como um adulto sexualmente inibido.
O tema da sexualidade infantil não aceita ser confinado às excitações dos órgãos sexuais e à fantasia que acompanha tais excitações. Ao estudar a sexualidade infantil é possível distinguir a maneira como a excitação mais específica é composta. A excitação do corpo está presente desde o nascimento, mas a capacidade de excitação de partes do corpo está limitada enquanto a criança não está em um estado integrado. A excitação está difusa no início e passa pela boca, pele, ânus e consiste em uma preparação para depois se relacionar aos órgãos genitais. A história da transição de um bebê imaturo para uma criança madura é longa e complexa, sendo também de uma importância vital para a compreensão da psicologia do ser humano. Para desenvolver-se naturalmente, o bebê e a criança necessitam de um ambiente relativamente estável.
Raízes da Sexualidade Feminina. As raízes da sexualidade da menina remontam diretamente aos primeiros sentimentos de voracidade e avidez em relação à mãe. Existe uma graduação desde o ataque faminto ao corpo materno até o desejo maduro de ser como a mãe.
Desordens Psicossomáticas. Deve-se observar a alteração da excitação sexual em sintomas e alterações fisiológicas que se assemelham aos sintomas e alterações provocadas por doenças físicas. Em parte por causa de razões internas e em parte por fatores excitantes do meio ambiente, uma criança torna-se com freqüência um ser excitável. Em algumas situações ela, no entanto irá reter essa capacidade de avidez e excitação originando frustração, através da falta de um clímax satisfatório. Isso poderá gerar dificuldade na criança e ela tenderá a encontrar outras formas de superar.
Numa descrição da sexualidade infantil deve-se citar a masturbação. A masturbação é normal ou saudável, ou então é um sintoma de um distúrbio no desenvolvimento emocional. A masturbação comum nada mais é do que senão um emprego de recursos naturais para a satisfação como garantia contra a frustração e a raiva, o ódio e o medo consequentes. A masturbação compulsiva, tal como o atrito compulsivo das coxas, o roer as unhas, o bater, o chupar o dedo e coisas parecidas, são provas evidentes de um angústia de uma ou outra espécie. A masturbação compulsiva implica simplesmente que as angústias subjacentes a enfrentar são excessivas. No caso de uma masturbação gravemente compulsiva, quer dizer que está sendo empregada pela criança em seus esforços para enfrentar a angústia de um tipo mais primitivo ou psicótico. O mais adequado seria lidar com a angústia do que querer tentar sustar a masturbação.
O estudo psicanalítico das crianças (como nos adultos) revela que os órgãos genitais masculinos são mais apreciados no inconsciente do que poderia deduzir-se da observação direta, embora, evidentemente, muitas crianças exprimam francamente seu interesse pelo pênis, se isso lhes for permitido. Os meninos pequenos dão valor aos órgãos genitais tal como apreciam os dedos e outras partes do corpo, mas, na medida em que experimentam uma excitação sexual, sabem que o pênis tem uma importância especial. Para a menina pequena, os órgãos genitais do menino são muito suscetíveis de converter-se em sentimento de inveja. Mas como tempo a menina aprende a apreciar os seios e descobre sua capacidade que um rapaz não tem de conter, gerar, transportar e amamentar o bebê.
Muitos dos medos infantis estão associados a idéias e excitações sexuais e aos consequentes conflitos mentais, conscientes e inconscientes. A base para a sexualidade adolescente e adulta foi estabelecida na infância, bem como as raízes de todas as perversões e dificuldades sexuais. A prevenção dos distúrbios sexuais adultos bem como de todos os aspectos, salvo os puramente hereditários, das doenças mentais e psicossomáticas, situa-se nos domínios dos que se ocupam da assistência à infância.



RELAÇÕES AFETIVAS